sábado, 21 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

Prefácio

Por mais moderna que se afirme a sociedade atual, a mulher segue discriminada. Pode ser em uma observação fortuita, que alguém julgue até engraçada, uma piada ou anedota talvez. Pode ser no salário ou mesmo na convicção, extremamente arraigada, de que cabe a ela a tarefa de criar os filhos. Assim, parece ainda, para muitos, ser natural o abandono da profissão em prol de uma noção de família em que o homem aparece como provedor de sustento. Isto em pleno século 21. O que se pode dizer, então, da situação da mulher entre 1923 e 1943, no início da trajetória do rádio no Rio de Janeiro e em São Paulo? O que se pode dizer, ao se associar o elemento feminino a um ambiente, o radiofônico, visto com restrições por parcelas da burguesia de então? Um ambiente que, pelos padrões da época, não era mesmo para as moças de boas famílias...

Em trazer à baila, nesse cenário, tantas histórias de vida, reside a importância deste De passagem pelos nossos estúdios: a presença feminina no início do rádio no Rio de Janeiro e São Paulo 1923-1943, de Tereza Cristina Tesser. Não se trata, é bom que se saliente, de uma obra feminista. É uma meticulosa reconstituição da trajetória de várias mulheres no rádio das duas principais cidades do país. Valoriza o feminino em seu contexto de época. Não o torna épico, porque, de fato, não o era. Reconstrói, no entanto, trajetos.

De 1923 a 1943, as duas primeiras décadas do meio em suas vertentes carioca e paulistana, não é ainda o período de uma Marlene a representar a mulher que chega ao mercado de trabalho, contrastar com uma Emilinha, construída, no imaginário, como modelo da mulher-família. É, no entanto, o tempo em que o rádio representa uma das poucas formas de ascensão e de reconhecimento público da mulher-artista na sociedade brasileira. É o tempo de uma Maria do Carmo Miranda da Cunha transformar-se em Carmen Miranda, a Pequena Notável, epíteto criado no e para o rádio. E brilhar como a primeira grande cantora popular do país, tão grande que se consagra – “Dizem que eu voltei americanizada...” à parte – como uma artista local a conquistar o mundo nos filmes de Hollywood.

Mas não se trata no trabalho de Tereza Tesser de registrar apenas a trajetória daquelas profissionais que ficariam para a memória coletiva da nação. Aparecem também as cantoras, as atrizes, as locutoras..., importantes ao seu tempo, mas esquecidas neste star-system tupiniquim que avança, por vezes aos trancos, em seus anos iniciais. Muitas delas deixam, como registra Tereza Tesser, a carreira em função do casamento. A mulher-mãe impõe-se, então, à mulher-profissional. Sinal daqueles tempos. Tempos que você, leitor, começa a conhecer, em seguidinha, na próxima virada de página.


Dr. Luiz Artur Ferraretto
Coordenador do Grupo de Pesquisa Rádio e Mídia Sonora da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação


Autora do 'De Passagem...' é homenageada pelo legado das vozes femininas em prol da humanidade
Professora do curso de Jornalismo e da Universidade Aberta Para a Terceira Idade da UNISANTOS, a jornalista e escritora Tereza Cristina Tesser é uma das homenageadas, nesta sexta-feira (18), às 15 horas, na Câmara Municipal de Santos (Praça Tenente Mauro Batista Miranda, 1, Vila Nova). Promovida pela Organização Neo Humanitarismo Universalista e a Associação Polonesa Educativo Cultural, trata-se de um reconhecimento ao legado das vozes femininas em prol da humanidade. Com reverência a personalidades da atualidade, a Sessão Solene também é uma homenagem ao centenário do Prêmio Novel de Química, concedido à cientista Maria Sklodowska-Curie, primeira mulher a receber o título de doutora em Ciências na Europa, e primeira mulher a receber o Prêmio Nobel de Física (1903) e o Prêmio Nobel de Química (1911). Neste mesmo dia, haverá ainda a premiação do Concurso Cultural “Cartas para Marie Curie” – Especial cidade de Santos, do qual participaram alunos da rede. Entre as vozes femininas de destaque na atualidade que também serão homenageadas no evento estão a presidente Dilma Rousseff, a deputada estadual Telma de Souza, a secretária de Educação Suely Maia e a enfermeira Gilze Maria Costa Francisco.

Faustão indica o "De Passagem Pelos Nossos Estúdios"

O livro foi destaque no Domingão do Faustão, na Rede Globo de Televisão, no último dia 26 de setembro. Ao recomendar a obra, o apresentador Fausto Silva destacou a importância da publicação para os profissionais de rádio e televisão e para interessados em conhecer parte da história do Rádio, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Palavra do Editor

“Trata-se de pesquisa inédita no Brasil, enfocando as mulheres que se aventuraram no rádio em uma época que ser artista correspondia a uma grave transgressão social. A autora, professora Tereza Cristina Tesser, em sua pesquisa documental, conseguiu resgatar esse problema a partir das histórias publicadas nas revistas especializadas de então. Diversas boas cantoras abandonaram promissoras carreiras para tornarem-se donas-de-casa, tal a pressão da época.

Assim, o livro traça um panorama sólido dos primórdios do rádio brasileiro, em especial das relações que envolviam as mulheres naquele ambiente artístico, no momento que este meio de comunicação eletrônica começava a conquistar o gosto popular. Como fonte de pesquisa, já serviu de base para enciclopédia sobre mulheres do Brasil. A Editora Universitária Leopoldianum (EDUL), da Universidade Católica de Santos, acredita estar contribuindo, como o lançamento desta obra, para ampliar o conhecimento sobre a história recente da evolução social dos meios de comunicação no Brasil.

O livro, em pré-lançamento na 21ª Bienal Internacional do Livro, sendo exposto e comercializado no estande da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (ABEU), terá lançamentos formais em Santos, São Paulo e Rio de Janeiro, além do próximo Congresso da Intercom, a realizar-se em Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, na Primeira semana de setembro.”

(Jornalista Marcelo Di Renzo)

Apresentação

Sempre gostei de quebra-cabeça. Aquele jogo que requer curiosidade, paciência, raciocínio lógico e um pouco de intuição. Ao abrir uma caixa com mais de mil peças, o primeiro passo é separar as com o lado reto, para depois formar o contorno da obra.

Foi assim que me senti realizando essa pesquisa. Procurar em revistas nomes, frases, pistas, indicações que pudessem dar embasamento para recontar a história de mulheres pioneiras. Reunir todo esse material, classificar e comparar tornou-se um trabalho cansativo e gratificante. Procurando informações em diversas fontes, senti o quanto é necessário resgatar nomes de artistas que serviram de exemplo para os profissionais de hoje.

Lembro dos dias inteiros que passei nas bibliotecas folheando revistas raras, e um mundo novo ia se abrindo em minha frente. O retrato de uma época, de costumes, de cultura e de padrões, ainda rígidos, para as mulheres. E, como em um folhetim acompanhava o início da carreira, as dificuldades. Vibrava com auge da fama e, de repente a falta de convites para apresentação, a decadência... Muitas artistas ficaram no esquecimento, outras tiveram o reconhecimento do público e poucas, o da história.

Durante o período de 1923 a 1943, muitas mulheres se destacaram. Enfrentaram desafios de uma época em que o trabalho feminino era restrito ao lar. Porém, não permaneceram omissas, e buscaram, nas mais variadas atividades, conquistar um espaço marcante na área profissional.

Paralelamente, nesse período, o Rádio nascia com o objetivo principal de difundir a cultura e informar para formar. Quando de sua implantação no Brasil, os artistas precursores lutaram com muitas dificuldades. Tudo era novidade. A improvisação foi a escola daqueles que optaram pela carreira radiofônica.

No início das transmissões radiofônicas tudo era muito novo. Uma parcela feminina fugiu dos padrões impostos pela época e, enfrentou consciente todas as barreiras. As artistas acreditavam que realmente a arte alimenta a alma. Atuaram como cantoras, radioatrizes e locutoras. Comandavam programas, falavam de suas dificuldades com seriedade. Conheciam o papel que desempenhavam na vida de suas ouvintes. Em determinado momento, as regras de conduta foram determinantes e muitas mulheres que tiveram a coragem de trabalhar no Rádio desistiram da carreira, quando se casavam. Na hora de optar, o lar, a família e os filhos tornaram-se mais importantes do que o brilho profissional.

Poucas artistas que atuaram no início do Rádio conseguiram o reconhecimento da sociedade. Muitas abandonaram o microfone, morreram sozinhas sem ao menos serem lembradas. Suas vozes ficaram esquecidas num texto qualquer de uma velha revista, e se perderam da memória dos estudantes e profissionais de comunicação.

O levantamento aqui realizado é apenas uma etapa, um início para futuros trabalhos. Não é uma pesquisa ufanista sobre o Rádio e a mulher. É, sim, um retrato de um período, em que um grande número de artistas valorizou a cultura brasileira.

Um país só poderá ser realmente grande quando souber valorizar seus filhos, resgatando a dignidade do ser humano, e se importar, realmente, com a cultura de seu povo. Que a história de nossos artistas sirva de incentivo e estímulo para o nosso crescimento.

(Tereza Cristina Tesser)

Autora participa do programa Baixada em Foco

Depoimento

“Fiquei tão animado com a idéia De passagem pelos nossos estúdios que procurei na Internet músicas da época, encontrei apressado as Cantoras do Rádio e Carmen Miranda, ajudou a entrar na atmosfera da leitura de época, relembrar a radionovela, a notícia no pé do ouvido, os programas de auditório que eu algumas vezes procurei enxergar olhando por trás do quatro válvulas que havia lá em casa. Recomendo o livro de Tereza Tesser, iria dar o merecido destaque na Clínica Literária, http://www.clinicaliteraria.com.br junto com a implementação integral da Rádio Peazê, bem sugestivo, mas detalhes técnicos modernos retardaram este lançamento e acabei repercutindo na coluna Vale a Pena! O livro não pode esperar.”

(Luiz Peazê, critico de literatura)

Zezé Gonzaga

Ser mulher...

Trecho do livro:

"A revista O Malho realizou, em 21 de janeiro de 1933, uma pesquisa entre 250 intelectuais, e Gilka Machado foi consagrada “a maior poetisa do Brasil”, cabendo-lhe o título pela significativa maioria de 100 votos. O poema Ser Mulher define um pouco a sua personalidade:

SER MULHER...

Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada

para os gozos da vida; a liberdade e o amor;

tentar da glória a etérea e altívola escalada,

na eterna aspiração de um sonho superior...

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada

para poder, com ela, o infinito transpor;

sentir a vida triste, insípida, isolada,

buscar um companheiro e encontrar um senhor...

Ser mulher, calcular todo o infinito curto

para a larga expansão do desejado surto,

no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...

Ser mulher, e, oh! atroz, tentálica tristeza!

ficar na vida qual uma águia inerte, presa

nos pesados grilhões dos preceitos sociais!"

Aracy de Almeida (Fita Amarela)

Radiomania – transformações e inovações

“Depois do jantar, sentados em bôas poltronas, diante da radiola, os maridos descobrem que se pode viajar muito, viajando ao redor da própria sala. Quem sabe se depois da radiomania a média da felicidade conjugal não aumentou?... Tem a palavra a madame...

Rádio mysterioso... Hoje a sciencia permite a côro de um de nós affirmar: o ar está cheio de idéias. De idéias e de sentimentos. Aqui neste salão aconchegante e florido, docemente perfumado, em que a leitora pousa o olhar em Única, existem no ar canções e poesias. Há vozes alegres e tristes, cantando ou falando em vários idiomas, licções de mestres ou ‘loquela de palradores’ violinos a gemer e até mesmo tambores a rufar.

Pensa a leitora que está sozinha? Engano. O mundo, minha boa amiga, está falando, cantando ou gritando, aí mesmo no seu boudoir. E não são vozes de espírito, que só os iniciados conseguem ouvir, são vozes humanas, dos vivos, que estando a milhares de quilômetros do seu salão, entram na sua casa mysteriosamente, sem que a minha bôa amiga possa impedir essa invasão conseguida nas asas do “Rádio”! A qualquer hora do dia ou da noite é sempre possível em qualquer lugar armar um receptor – ‘um verdadeiro ouvido artificial’ – para escutar as amáveis intrusas, ‘as vozes da terra’...

Na estação transmissora da Rádio Telefônica, seja a da nossa querida e patriótica ‘Rádio Sociedade’, a corrente microphonica, modificada pelo som vae agir sobre as ondas que o transmissor espalhar no ar, e essas ondas variam na sua amplitude, de acordo com a corrente microphonica. Eis como o som ‘vira’ ondas hertzianas que se espalham pelo mundo. Imaginemos uma corda presa por uma das pontas a um muro, pela outra ponta segura na mão de alguém que se faça oscilar.

A corda (que comparação grosseira) é o ether. A distância entre os cristais das ondas é o que se chama de “comprimento da onda”. A mão que a agita é o transmissor.

Se alguém munido de um bastão enquanto oscilar de vez em quando dá-lhe uma pancada mais ou menos forte, as oscilações serão alteradas pelo bastão: o bastão é o microphone. Eis aí o mystério da transmissão, meio desvendado.”

Publicado na revista Única, em abril de 1926, o texto acima foi escrito por Maria Elisa dos Santos Reis. Era uma forma de explicar aos leitores como se dava a magia da transmissão radiofônica, ainda uma novidade para a época.

Carmem e Aurora Miranda (Cantoras do Rádio)

Dircinha Batista (Meio Mundo)

Marília Batista (Quando o samba acabou)

Aracy Cortes (Moreno Faceiro / Ai Ioiô)

Release

Professora lança obra inédita sobre a presença feminina no início do Rádio

O resgate histórico de um período em que muitas mulheres enfrentaram desafios e se destacaram profissionalmente pode ser conferido na obra “De Passagem Pelos Nossos Estúdios - A Presença Feminina no Início do Rádio no Rio de Janeiro e São Paulo, 1923 – 1943". Inédita, de autoria da professora mestre, jornalista Tereza Cristina Tesser, e selo da Editora Universitária Leopoldianum da UniSantos, será lançada no próximo dia 21, às 17 horas, no Teatro Coliseu (Rua Amador Bueno, 237), em Santos.

Fruto de sua dissertação de Mestrado, defendida em 1995 na USP, o trabalho é um retrato de um período em que uma parcela feminina foge dos padrões da época e atua como cantora, radioatriz e locutora. “Elas comandavam programas, falavam de suas dificuldades com seriedade, conheciam o papel que desempenhavam na vida de suas ouvintes”, destaca Tereza Cristina.

De Passagem Pelos Nossos Estúdios é um retrato de um período importante da história. “É uma meticulosa reconstituição da trajetória de várias mulheres no rádio das duas principais cidades do país. Valoriza o feminino em seu contexto de época. Não o torna épico, porque, de fato, não o era. Reconstrói, no entanto, trajetos”, destaca no prefácio o coordenador do grupo de pesquisa Rádio e Mídia Sonora, da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Luiz Artur Ferraretto.

A obra está dividida nos seguintes capítulos: A Evolução das Mulheres (Década de 30 – Mudanças de comportamento); O Tempo nas Ondas do Rádio (Radiomania – Transformações e inovações e Uma realidade presente); Um Canto Feminino (A voz popular ocupa os espaços – São Paulo apresenta suas cantoras – Um caminho para o Rio de Janeiro – Emissoras cariocas, palco das grandes estrelas); A Primeira Chance de Sucesso (Os programas que ofereciam uma oportunidade); Drama e Humor são dos Destaques (A emoção do folhetim – Radioteatro invade a Cidade Maravilhosa; Radionovela, um momento especial; e O humorismo também tinha o seu espaço); e Mulheres e Crianças – Um Tema Constante (Os pequenos conquistam seus lugares – Locutoras dão o tom – O casamento termina com a carreira artística).

Fonte: Assessoria de Imprensa (UNISANTOS)